Fernanda Pinto Fernandes

15 de mai de 20222 min

Estudo conclui que as crianças urbanas têm um grande desconhecimento sobre ecossistemas aquáticos

As crianças urbanas têm um grande desconhecimento sobre os ecossistemas aquáticos e a sua biodiversidade e medo de contacto com a natureza (água, terra, plantas, animais…), conclui um estudo liderado pela investigadora Maria João Feio, do Centro de Ciências do Mar e do Ambiente (MARE) da Universidade de Coimbra (UC).

O estudo centrou-se na avaliação do impacto de um projeto ambiental de continuidade com crianças entre os 6 e os 10 anos (1.º ciclo) e foi realizado no âmbito do projeto CresceRio, que tem como objetivo educar as crianças para a importância dos ribeiros urbanos, da sua biodiversidade e serviços, e simultaneamente chamar a atenção da sociedade para a necessidade da sua recuperação. O projeto envolve uma equipa interdisciplinar de ecólogos, sociólogos e artistas da Universidade de Coimbra, da Universidade de Aveiro e da companhia de teatro Marionet.

Neste trabalho em particular, a equipa avaliou o impacto de cinco atividades realizadas ao longo de dois anos letivos (1.º e 2.º ano) com uma turma da escola básica da Solum, agrupamento de escolas Eugénio de Castro. No âmbito dessas atividades, os alunos conheceram diferentes ribeiras urbanas de Coimbra e uma na serra da Lousã. Em todas, caracterizaram a vegetação, amostraram invertebrados bentónicos e microalgas e analisaram as perturbações antropogénicas no meio envolvente. Realizaram ainda uma aula de laboratório para identificação da fauna e flora, com microscópios óticos e lupas binoculares, e calcularam índices de qualidade ecológica dos rios.

De acordo com o estudo, publicado na revista científica PLOS ONE, os medos revelados pelas crianças foram diminuindo progressivamente ao longo do projeto, à medida que o seu conhecimento sobre os ecossistemas foi aumentando. No final, os alunos eram capazes de dizer os nomes de árvores ripárias, plantas aquáticas e invertebrados e identificar os maiores problemas destes sistemas.

O estudo concluiu ainda que nestas idades (6-10 anos) é necessário tempo «para que os resultados se manifestem e tenham um benefício duradouro, por oposição a ações de sensibilização pontuais. Demonstrámos o efeito do contacto regular das crianças com a natureza. Não só ganham uma importante sensibilidade que lhes permite distinguir o que está bem e mal nos ecossistemas aquáticos, contribuindo assim para a sua preservação, como também perdem o medo do contacto com os animais, a água e a terra, que demonstravam no início, reaproximando-se da natureza», afirma Maria João Feio.

Para a investigadora do Departamento de Ciências da Vida da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC), os resultados deste estudo mostram que «é essencial promover o contacto das crianças com a natureza e transmitir-lhes conhecimentos sobre os ecossistemas e biodiversidade, de forma a promover comportamentos sustentáveis mais tarde. Este processo deve começar cedo e ser contínuo (começámos quando os alunos nem sabiam ler e escrever!). Introduzir temas ligados à ecologia com aulas práticas e de campo no currículo do 1.º ciclo é fundamental».

O projeto CresceRio é cofinanciado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) através dos centros MARE e GeoBioTec e pelo Ministério da Cultura - que financia a participação da companhia de teatro Marionet. O artigo científico está disponível em: https://doi.org/10.1371/journal.pone.0266776.

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