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Foto do escritorJúlio Roldão

A tempestade perfeita


Um voo de Lisboa para Varadero, uma das rotas de uma nova companhia aérea a operar em Portugal – a World2Fly –, foi obrigado, há dias, a regressar ao Aeroporto Humberto Delgado, de onde saíra, face à dificuldade em fazer recolher o trem de aterragem após a descolagem.



Com os tanques abastecidos para uma viagem de dez horas, a aeronave teve de gastar combustível às voltas sobre uma zona da Grande Lisboa, antes de aterrar, procedimento técnico necessário para atingir o peso máximo aconselhável a uma aterragem normal.


Esta ocorrência, mais vulgar do que se imagina, ganhou contornos de uma emergência, potencialmente grave, com direito a emissões especiais de vários canais portugueses de televisão, entre canais por cabo e canais de sinal aberto.


Com pilotos em estúdio a comentar a situação do voo de Lisboa para Varadero e equipas de exterior no interior do Aeroporto Humberto Delgado e em espaços com vistas para a pista, os canais televisivos foram alimentando a emergência e, em algumas pessoas, o pânico.


Perante as preocupantes notícias, familiares de passageiros do voo WPT1155 de 18 de Junho p.p., entre Lisboa e Varadero, deslocaram-se para o Aeroporto Humberto Delgado, ávidos de informações que, em boa verdade, não podiam ser dadas por não configurarem a suposta situação de emergência que se viveria a bordo.


Duas horas e meia depois, alcançado que foi o peso máximo aconselhável para uma aterragem normal da aeronave em causa, o avião aterrou em segurança. Mas a dramatização da situação não cessou – uma familiar de uns passageiros do avião, pessoa que se disponibilizou a falar para mais do que um canal de televisão, garantia que os passageiros dentro do voo não tinham a noção do que, segundo ela, realmente estaria a passar-se.


Por coincidência, uma das passageiras do voo para Varadero é uma jovem jornalista de um canal de televisão por cabo e pôde, quando o avião já estava de novo no Aeroporto Humberto Delgado, entrar em directo, via telechamada, para fazer um retrato do ambiente, calmo, que se vivia a bordo, e consolidar a ideia de que o canal televisivo em causa está sempre, em exclusivo, no sítio certo à hora certa.


Detectada a avaria (supostamente uma cavilha de segurança do trem de aterragem que não foi retirada antes da descolagem), o voo para Varadero retomou a rota, com um atraso de algumas horas, enquanto a informação televisiva contabilizava uma sequência de divulgação de informações pouco rigorosas a configurar um cenário de falsa tempestade perfeita.


*Por Júlio Roldão, Jornalista desde 1977



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