Descoberto Planeta Polar Inédito a Orbitar Estrelas Binárias com o VLT
- Jorge da Costa
- 21 de abr.
- 3 min de leitura
21 de abril, 2025.
Uma equipa de astrónomos, utilizando o Very Large Telescope (VLT) do Observatório Europeu do Sul (ESO), fez uma descoberta surpreendente: o primeiro planeta polar com indícios fortes de orbitar um sistema de duas estrelas. Este achado inédito, publicado na revista Science Advances, abre novas perspetivas sobre a formação e evolução de sistemas planetários complexos.
Nos últimos anos, a deteção de exoplanetas a orbitar sistemas binários de estrelas tornou-se relativamente comum, evocando o icónico planeta Tatooine da saga Star Wars. Contudo, estes planetas tendem a alinhar as suas órbitas com o plano orbital das suas estrelas hospedeiras. A existência de planetas em órbitas perpendiculares, ou polares, em torno de binários estelares era até agora uma hipótese teórica, apesar da deteção de discos de formação planetária com esta orientação.

Agora, uma equipa liderada por Thomas Baycroft, estudante de doutoramento na Universidade de Birmingham, Reino Unido, conseguiu obter provas concretas da existência destes “planetas polares”. O exoplaneta recém-descoberto, denominado 2M1510 (AB) b, orbita um par peculiar de anãs castanhas jovens – objetos celestes que se situam entre os planetas gigantes gasosos e as estrelas de baixa massa.
O sistema binário de anãs castanhas, conhecido como 2M1510, é particularmente interessante por ser um binário eclipsante, o que significa que as duas anãs castanhas se eclipsam mutuamente quando observadas da Terra. Este sistema já era considerado raro por ser apenas o segundo par de anãs castanhas eclipsantes conhecido. A descoberta de um planeta a orbitá-lo numa trajetória perpendicular à órbita das suas estrelas hospedeiras torna-o ainda mais excecional.
“Estou verdadeiramente entusiasmado por estar envolvido na deteção de indícios credíveis que apontam para a existência desta configuração,” afirma Thomas Baycroft. Amaury Triaud, professor na Universidade de Birmingham e coautor do estudo, acrescenta: “Um planeta em órbita não só de um binário, mas de um binário de anãs castanhas, e numa órbita polar, é realmente algo incrível.”
A equipa chegou a esta descoberta ao refinar os parâmetros orbitais e físicos das duas anãs castanhas, utilizando dados recolhidos com o instrumento UVES (Ultraviolet and Visual Echelle Spectrograph) montado no VLT do ESO, no Observatório do Paranal, no Chile. O sistema 2M1510 tinha sido inicialmente detetado em 2018 através do SPECULOOS (Search for habitable Planets EClipsing ULtra-cOOl Stars), outra instalação do Paranal.
As observações revelaram um comportamento invulgar na trajetória orbital das duas estrelas, sugerindo a influência gravitacional de um corpo celeste adicional. Após uma análise exaustiva de vários cenários, a equipa concluiu que a única explicação consistente com os dados era a presença de um planeta numa órbita polar em torno do binário.
“Esta descoberta foi realmente inesperada, uma vez que as nossas observações não foram recolhidas para procurar um tal planeta ou configuração orbital. Como tal, foi de facto uma grande surpresa,” conclui Amaury Triaud. “Penso que isto nos mostra, tanto a nós astrónomos como ao público em geral, o que é possível encontrar no Universo fascinante em que vivemos.”
Esta descoberta notável, fruto da capacidade tecnológica do Very Large Telescope do Observatório Europeu do Sul, abre novas avenidas para a compreensão da arquitetura e dos processos de formação de sistemas planetários em ambientes estelares múltiplos.
Fonte: Observatório Europeu do Sul

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