Microplásticos Infiltram Rios "Saudáveis" no Norte de Portugal: Alerta a UMinho | Peneda Gerês TV
- Jorge da Costa
- 10 de jun.
- 3 min de leitura
10 de junho, 2025.
Um estudo recente da Universidade do Minho revela a alarmante presença de microplásticos em rios do Norte de Portugal, mesmo em ecossistemas considerados saudáveis, acendendo um sinal de alerta para a poluição invisível que ameaça a biodiversidade e a cadeia alimentar.
A Descoberta Preocupante da UMinho
Uma investigação liderada pelo Centro de Biologia Molecular e Ambiental (CBMA) da Escola de Ciências da UMinho trouxe à luz uma realidade preocupante: a contaminação por microplásticos já atinge rios do Norte de Portugal, incluindo aqueles que eram classificados como ecologicamente preservados. O estudo, publicado na conceituada revista científica "Hydrobiologia", contou com a colaboração do Laboratório da Paisagem, do Município de Guimarães e da ARNET - Rede de Investigação Aquática.

Entre maio e junho de 2023, os cientistas analisaram 15 troços dos rios Ave, Selho e Vizela, com foco em organismos cruciais para a cadeia alimentar fluvial, como larvas de mosquito (Chironomidae) e vermes (Oligochaeta) presentes nos sedimentos. Os resultados foram inequívocos. "Detetámos microplásticos em todos os organismos das amostras, independentemente da qualidade ecológica do rio", afirma Giorgio Pace, primeiro autor do estudo.
Este achado desafia a perceção de que a poluição por plásticos está restrita a áreas urbanas ou industrializadas. "Este resultado sugere que a presença de microplásticos não está exclusivamente associada à ocupação urbana do solo, pode também resultar de atividades agrícolas, industriais e domésticas, além de falhas na gestão de resíduos”, acrescenta Pace. Isto significa que até mesmo os ecossistemas mais intactos estão vulneráveis a esta forma de poluição invisível, colocando em risco a diversidade biológica, os níveis de oxigénio e a capacidade de autorregulação dos cursos de água.
Os Perigos Ocultos dos Microplásticos
Além do impacto físico que causam nos organismos, os microplásticos servem como veículos para poluentes ainda mais perigosos, como os metais pesados. Estas substâncias podem acumular-se nos seres vivos e, em seguida, propagar-se por toda a cadeia alimentar, com consequências ainda desconhecidas para a saúde humana e ambiental.
"Compreender os mecanismos de acumulação e eliminação de microplásticos é essencial para avaliar os riscos ecotoxicológicos e desenvolver medidas eficazes", sublinha o cientista do CBMA. A urgência em encontrar soluções é clara, especialmente com o Dia Mundial do Ambiente, amanhã, 5 de junho, dedicado este ano ao combate à poluição plástica
Recomendações e Contexto Global
Os investigadores da UMinho defendem uma abordagem integrada para combater este problema crescente. As ações propostas incluem a redução drástica de plásticos descartáveis, a regulação de produtos que libertam microplásticos e a implementação de medidas corretivas, como barreiras físicas e melhorias significativas no tratamento de efluentes. A otimização da gestão de resíduos sólidos e o controlo de efluentes urbanos e industriais são igualmente apontados como estratégias preventivas fundamentais.
Este estudo insere-se num contexto de investigação mais vasto, como os projetos REACTivar, BluePoint e RIPARIANET. O RIPARIANET, em particular, está a mapear a contaminação por microplásticos em rios de vários países europeus – Itália, Espanha, Alemanha, Suécia e Portugal –, permitindo uma comparação de padrões de poluição à escala global.
O Alerta da ONU e o Dia Mundial do Ambiente
A preocupação com a poluição plástica não é exclusiva do Norte de Portugal. O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) alerta que cerca de 11 milhões de toneladas de plástico chegam anualmente aos ecossistemas aquáticos. Caso não sejam tomadas medidas globais significativas, este valor poderá aumentar em 50% até 2040.
A mensagem do Dia Mundial do Ambiente 2025, subordinado ao tema “Combater a poluição plástica”, é um apelo à ação: reduzir o consumo, recusar plásticos descartáveis, repensar o uso diário de plástico e reciclar corretamente. A descoberta da UMinho reforça a urgência destas medidas, demonstrando que a poluição por microplásticos é uma ameaça invisível e omnipresente, que exige uma resposta concertada de todos.
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