Fernanda Pinto Fernandes

19 de jun de 20233 min

“Facha Romana” recriou usos e costumes castrejos no Castro de Santo Estêvão

A Freguesia da Facha, no concelho de Ponte de Lima, viveu este fim de semana à moda dos romanos, no Castro de Santo Estêvão. De 16 a 18 de junho, todos quantos visitaram esta “aldeia recriada” puderam testemunhar um festim romano, militares acampados e fardados a rigor, demonstração de usos e costumes no castro, alimentação, queimada galaica, desfiles e festejos e até a celebração de um casamento castrejo.

O primeiro dia das festividades foi dedicado aos mais novos, na sexta-feira à tarde, com uma visita guiada ao Castro de Santo Estêvão, um povoado da Idade do Ferro, onde uma arqueóloga explicou aos cerca de 75 alunos do 3.º e 4.º anos do Centro Educativo da Facha, como viveram ali povos, no século VII antes de Cristo, e quais eram os seus afazeres diários.

Esta é a segunda edição de um evento que pretende dar a conhecer o património arqueológico que ali se encontra, no sentido de apostar na sua preservação, enquanto se dinamiza a freguesia, envolvendo toda a comunidade.

A edição de 2023 da Facha Romana foi organizada pela Junta de Freguesia da Facha, juntamente com os grupos de teatro Art’in Facha e GACEL – Grupo de Ação, Cultura e Estudos Limianos, que asseguraram, com os cerca de 80 atores e figurantes, as recriações históricas, culturais, usos e costumes, durante o dia de sábado e domingo.

As demonstrações por parte dos grupos de teatro procuraram ser fiéis ao que faziam os povos que viveram no Castro de Santo Estêvão no século VII a.C., tendo por base documentação do Arquivo de Ponte de Lima, e o resultado das intervenções arqueológicas realizadas no início dos anos 80 do século XX.

“O balanço é sempre positivo” pois “é um evento que mobiliza bastantes pessoas”, atesta o Presidente da Junta de Freguesia da Facha, Manuel Fernandes Laranjo, destacando a diferenciação cultural do evento em relação a outros que estamos acostumados a ver pelas aldeias.

Júlia Carvalho, colaboradora do Art’in Facha, já participa no evento da Facha Romana desde a primeira edição. Coube-lhe o papel de artesã, demonstrando como se utilizava um tear para fabrico de tecidos. Considera que esta edição “está melhor que o ano passado e a nossa intenção é melhorar a cada ano.” “Aprendemos com os erros e todos os anos tentamos fazer coisas novas, para as pessoas chegarem aqui e não verem sempre a mesma coisa”, confidencia.

Júlia Carvalho trabalhando no tear

Um trabalho voluntário que envolve toda a comunidade. Neste caso, participam aqui pai, filha e netos. “É uma envolvência de várias gerações; a maior parte das pessoas acabam por ser familiares e amigos, e trazem-se já os miúdos que eles também gostam e começam a conhecer as raízes ancestrais aqui da Facha, os castros e as atividades que faziam antigamente, e isto, para eles, é importante, porque traz-lhes uma parte cultural e uma divulgação do património que eles têm aqui na terra”, refere Júlia Carvalho.

No sábado, o ponto alto das festividades foi o Festim Romano, e houve também Festividades de Beltrane e Queimada Galaica, tendo juntado entre cem a duzentas pessoas no Castro.

Por fim, no domingo, celebrou-se um casamento castrejo ou celta, a preceito, momento que reuniu muitos visitantes.

Noivos dirigindo-se para a cerimónia do casamento

Público a assistir à cerimónia do casamento castrejo

Domingos Morais, presidente do GACEL, desempenhou o papel de druida, cujo objetivo era “limpar o local - geralmente uma clareira-, de todos os espíritos, apelando aos espíritos bons dos nossos antepassados, da natureza e da floresta, consagrando o local para os noivos poderem dar o nó e para que os protejam ao longo da sua vida”, explica.

Noivos a "dar o nó"

Os noivos seguiram depois no cortejo em direção à clareira e, após lhes serem lavadas as mãos, procedeu-se ao ato de “dar o nó”, em que lhes foi enrolado um fio nas mãos, oficializando, assim, a união. Finalmente, noivos e convidados partilharam o pão e o vinho e prosseguiram com o arraial do casamento, acompanhados pelo grupo de música “Zukra”, que foi animando as festividades.

Grupo musical "Zukra" animou as festividades

Em jeito de balanço do evento Facha Romana, José Martins, diretor do Art’in Facha referiu ter notado "uma evolução desde a primeira edição", assim como , "mais adesão do público e tivemos mais rigor – embora não perfeito, porque nós somos amadores – das situações que recriámos aqui no Castro e com os Romanos, principalmente ontem no Festim." O diretor do Art’in Facha rematou, dizendo que pretendem “com estas recriações valorizar o Castro”, apelando à preservação daquele património.

José Martins (à direita da foto) "lutando" com o cutileiro

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