Fernanda Pinto Fernandes

6 de ago de 20234 min

Festival de Arte Urbana “MurArcos” regressa, de 8 a 11 de setembro, a Arcos de Valdevez

Este sábado, 5 de agosto, o público pôde ver o resultado final dos trabalhos dos pintores, que desde dia 31 de julho embelezaram muros e superfícies exteriores da zona histórica do concelho de Arcos de Valdevez. A primeira edição do Festival de Arte Urbana MurArcos, dedicado às novas aplicações artísticas e criativas em espaço público, contou com a participação de Tiago Regg Salgado, Daniela Guerreiro e Mariana Duarte Santos.

Num percurso cronológico, que inicia no túnel em frente à Praça do Município, encontramos o trabalho de Mariana Duarte Santos, que, em tons monocromáticos, nos remete para as fotografias a preto e branco ou sépia, para o antigo, o tradicional, o histórico, incorporando no seu mural elementos característicos do Alto Minho, como o folclore, a vaca cachena, o campo.

Mural da artista Mariana Duarte Santos

Seguimos para baixo, onde encontramos o recém-inaugurado Espaço Valdevez, que deu azo a este festival de arte urbana, no sentido de consciencializar para o património e para a sua reabilitação em união com a arte e a história. Vários outros espaços da zona da Valeta estão já pensados para a segunda etapa deste festival, que terá lugar de 8 a 11 de setembro de 2023, e que vai complementar as intervenções já existentes, envolvendo artistas plásticos locais para partilha de experiências, conceitos e realização de trabalhos, sendo que este ano será o artista arcuense Mutes.

Esta caixa de luz será um dos spots a ser intervencionado em setembro

Também esta varanda será a tela de novos artistas em setembro

Zona da Valeta com mais potenciais imóveis para reabilitar e intervencionar

Na zona mais antiga da Valeta, o mural de Daniela Guerreiro salta à vista pela incorporação de cores mais suaves, como o branco, o laranja, o verde e o castanho. Fazendo referência a elementos que encontrávamos no mercado que outrora preenchia as ruas da Valeta, reconhecemos as laranjas da zona, a folha de louro, uma cesta de vime, uma folha de bacalhau que tem inscrito o preço (como se fazia antigamente, ainda em escudos) e umas mãos, que poderiam pertencer a tantas mulheres e homens que marcaram a história e vida daquele espaço.

Mural de Daniela Guerreiro

Com este Festival, “a Câmara Municipal procura dinamizar a reabilitação do espaço público urbano, valorizar o património e promover a reabilitação urbana, contribuindo para a promoção do concelho e para a dinamização da atividade económica e turística.”

O Presidente da Autarquia, João Manuel Esteves, destaca “as várias homenagens que estão aqui bem presentes nestes murais: uma homenagem ao rio [mural de Tiago Regg Salgado], às pessoas que viveram e que vivem este espaço e que ajudaram a criar história [mural de Daniela Guerreiro], e uma homenagem àquilo que é o património, a tradição, a nossa cultura, com todo aquele quadro da ruralidade e ao mesmo tempo da expressão da nossa cultura mais etnográfica [mural de Mariana Duarte Santos], portanto temos aqui como é que nós aliamos património, a tradição com a modernidade; a arte ao serviço da dinamização; a arte como impulsionador de revitalização do espaço público e revitalização dos edifícios e do espaço privado.”

João Manuel Esteves revelou que a recetividade por parte dos proprietários dos edifícios “tem sido boa, mas julgo que estamos a ganhar cada vez mais adeptos”, porque, justifica o autarca, “nós temos a oportunidade de ter nestas casas, hoje em dia, uma intervenção artística por artistas de renome, reconhecidos em Portugal e no estrangeiro.”

Regg Salgado, artista e curador do MurArcos, em conversa com os jornalistas, explicou o processo criativo, começando por dizer que “depois de muita pesquisa e de ouvir muitas histórias aqui dos moradores, uma coisa é certa: uma figura era muito importante, que era o Guarda-Rios; o senhor do rio, o senhor do Vez, como lhe chamavam”, revela. “Quando eu ouvi que o senhor, de facto, tinha uma relação com o rio, diferente, que ele vivia para o rio e tratava do rio e que morava aqui - portanto era uma figura central da Valeta -, senti que era muito bom fazer-lhe uma homenagem e homenagear também o rio”, acrescenta. O artista salienta que “há uma relação da Valeta com o rio, crucial para os nossos murais, porque são coisas que não podemos ignorar.”

Mural de Tiago Regg Salgado

No mural de Regg Salgado, em tons esverdeados e cinza, observamos um homem corcovado que parece imiscuir-se no rio. Em termos técnicos, o artista explica o mural de sua autoria: “O horizonte do rio é uma referência ao nível das cheias. Quanto à figura do homem, o Guarda-Rios, vivia tanto o rio, de uma forma poética, que a sombra dele e a maneira como ele está colocado é propositada, porque é quase que uma das árvores; a sombra dele é tão importante como a sombra das árvores. Ele está lá e visualmente é mais uma ferramenta que eu utilizo para dar essa metáfora”, indica. A postura icónica da figura retratada, segundo Regg Salgado, fez com que o mural que apenas “era uma coisa verde” se destacasse e as pessoas olhassem para ele de maneira diferente, reconhecendo de imediato que se tratava do Guarda-Rios.

A figura do Guarda-Rios foi rapidamente identificada pelas pessoas que têm observado o mural

O artista faz um balanço “muito positivo” desta experiência, tendo adiantado que em setembro vão “pintar o meio da Valeta” com ícones, e que está a ser feito um documentário artístico, onde se retrata Arcos de Valdevez e a vivência dos artistas e os próprios murais.

O Festival de Arte Urbana MurArcos já tem edição garantida para 2024, estando a despertar a curiosidade e interesse em participar, de artistas de várias zonas do globo.

    0