Estudo da UMinho abre caminho para a redução de infeções intestinais | Peneda Gerês TV
- Jorge da Costa
- 27 de set.
- 2 min de leitura
27 de setembro, 2025.
Uma descoberta promissora do Centro de Biologia Molecular e Ambiental (CBMA) da Universidade do Minho (UMinho) revelou o mecanismo de sobrevivência do fungo oportunista Candida albicans no intestino fragilizado, nomeadamente após tratamentos com antibióticos. A equipa identificou 10 genes, designados ATO, que, ao serem silenciados, impedem a colonização do fungo, podendo levar a uma significativa redução de infeções intestinais Candida em pacientes de risco.

O trabalho, coordenado por Sandra Paiva, vice-reitora e professora do Departamento de Biologia da UMinho, e publicado na prestigiada revista mBio da Sociedade Americana de Microbiologia, foca-se na capacidade de adaptação do Candida albicans.
O Mecanismo de Sobrevivência do Fungo
Após a toma de antibióticos, a flora bacteriana intestinal é drasticamente reduzida, criando um ambiente favorável para o crescimento de fungos como o Candida albicans, que vivem naturalmente no nosso corpo. Os investigadores da UMinho descobriram que 10 genes ATO são cruciais para esta expansão.
Estes genes permitem ao fungo utilizar o acetato, um nutriente muito abundante no intestino, conferindo-lhe uma vantagem competitiva para se multiplicar e colonizar o trato gastrointestinal. Como explica Sandra Paiva, “Ao identificarmos transportadores essenciais à sobrevivência do Candida, abrimos a porta a novas terapias que poderão impedir a colonização fúngica e reduzir o risco de infeções invasivas”.
Implicações para a Saúde Pública
A pesquisa, que contou com a coautoria de cientistas da Universidade Católica de Lovaina (Bélgica) e da Universidade de Exeter (Inglaterra), e financiada pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), analisou o trato gastrointestinal de ratinhos tratados com antibióticos. Os resultados demonstraram que, ao bloquear os genes ATO, o Candida não consegue instalar-se de forma estável no intestino.
Esta descoberta é de particular relevância para pessoas que ingerem muitos antibióticos, mas também para doentes com doenças inflamatórias intestinais, cancro, imunodeprimidos, ou com idade avançada – grupos particularmente vulneráveis a infeções intestinais e sistémicas.
As infeções por Candida mais graves, conhecidas como candidíase invasiva, afetam cerca de 1.5 milhões de pacientes por ano e apresentam uma taxa de mortalidade elevadíssima (cerca de 63%). A investigadora Rosana Alves, primeira autora do estudo, sublinha a urgência de novas opções: “As opções de antifúngicos disponíveis são muito limitadas e, como estes fungos são bastante semelhantes às nossas próprias células, é difícil desenvolver medicamentos que sejam eficazes sem causar efeitos tóxicos”.
A investigação da UMinho, ao desvendar este ponto fraco do fungo, pavimenta o caminho para o desenvolvimento de fármacos mais seletivos e eficazes no combate a estas infeções intestinais Candida e sistémicas.
Este avanço no conhecimento do microbioma intestinal poderá revolucionar o tratamento e prevenção de infeções em doentes frágeis.
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