Eu não sou político nem me interessa da política. Por que está errada esta afirmação? | Peneda Gerês TV
- Jorge da Costa
- 24 de set.
- 3 min de leitura
Atualizado: 25 de set.
24 de setembro, 2025.
A frase “Eu não sou político nem me interesso pela política” é comum e muitas vezes proferida com um ar de resignação ou superioridade. No entanto, ela esconde uma contradição fundamental. Se a vida humana é, por natureza, uma vida em sociedade, e se a política é a arte de gerir essa vida em sociedade, então é impossível não ser ou não ter interesse em política.

Quando alguém diz que não se interessa por política, na maioria das vezes, está a expressar uma frustração com a política partidária ou com os políticos de profissão. Estão a dizer que se sentem impotentes perante um sistema que parece distante e, por vezes, corrupto. No entanto, ao afastar-se, a pessoa não está a escapar à política, mas sim a abdicar da sua participação.
É fundamental reconhecer que, em todos os partidos e em todos os níveis de poder, existirão pessoas sérias, competentes e empenhadas em fazer a diferença. Estes indivíduos dedicam a sua vida a lutar por causas em que acreditam, a trabalhar na criação de políticas públicas mais justas e a servir a comunidade com integridade.
A política não se limita aos debates no parlamento, às campanhas eleitorais, ou às promessas dos candidatos. Ela está em cada aspeto da nossa vida. O preço dos transportes públicos, o acesso à saúde, a qualidade do ensino, a segurança nas nossas ruas, tudo isso são decisões políticas. Quando nos queixamos de um buraco na estrada, estamos a falar de política. Quando nos preocupamos com o salário mínimo, estamos a falar de política. Quando discutimos a sustentabilidade do nosso ambiente, estamos a falar de política. A ideia de que "os políticos são todos iguais" e de que "a política não tem solução" é uma generalização perigosa. Ela leva ao fatalismo e à inércia, e é precisamente esse tipo de pensamento que permite que os problemas se perpetuem. A diversidade de ideias e propostas é fundamental para a democracia, e a participação cívica é a única forma de garantir que as nossas preocupações são ouvidas e que as nossas vidas podem, de facto, melhorar.
O verdadeiro significado de ser "político"
A palavra política vem do grego, polis, que significa cidade ou cidade-estado. A palavra político vem de politikós, que significa "relativo à cidade". Na sua essência, ser político não é um sinónimo de ser deputado ou de pertencer a um partido. Ser político é ser um cidadão ativo. É participar na vida da comunidade. É tomar decisões que afetam a vida em sociedade.
Em português de Portugal, a palavra político refere-se tanto ao substantivo (a pessoa que participa na vida política) quanto ao adjetivo (aquilo que se refere à política). Por exemplo, podemos dizer "Ele é um político experiente" ou "Essa é uma decisão política". Em ambos os casos, o cerne do significado é a relação com a organização e a gestão da vida em sociedade.
Ao dizer que não somos políticos nem nos interessamos por política, estamos a negar uma parte fundamental da nossa existência enquanto seres sociais. Estamos a dizer que preferimos ser meros espetadores, e não participantes, da história que se desenrola à nossa volta. A política é, em última análise, o que faz de nós cidadãos e não apenas indivíduos isolados. É através da nossa participação que moldamos o mundo em que vivemos
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Se quer ver mudanças, é preciso envolver-se, mesmo que de forma modesta. Pode ser informando-se sobre as propostas dos candidatos, votando, participando em manifestações ou simplesmente discutindo os problemas da sua comunidade com os seus vizinhos. Não se interesse pela política por causa dos políticos, interesse-se por ela por causa de si e dos seus.

Artigo de opinião
Jorge da Costa
Editor/Jornalista - Peneda Gerês TV
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